A Maldição do nuclear – I – Chico Whitaker

As autoridades sensatas de todo mundo estão nos aconselhando – e mesmo nos impondo sanções, se não o fizermos – a ficarmos isolados em nossas casas, para diminuir a enorme velocidade de contágio com que o novo vírus que assola o planeta nos ataca. Seria inoportuno – e mesmo desrespeitoso com as vitimas dessa pandemia – usar esse isolamento para pensarmos em outra coisa que na realização de um objetivo quase único de vencer a ameaça à espécie humana que surgiu num pais e rapidamente invadiu todos os continentes?
Na verdade a parte que tem ser feita por nós, na nossa atual impotência política de simples cidadãos e cidadãs, é a de nos mantermos afastados de qualquer convívio potencialmente perigoso para todos. E também a de tentarmos convencer da gravidade da ameaça, pelos meios de que cada um dispõe, aqueles que não estão se dando conta disso. Ainda mais que há alguns governantes irresponsáveis – com menção especial ao que infelizmente se passa no Brasil – que atuam em sentido exatamente contrário ao mais rudimentar bom senso.
Com isso ninguém se arrisca a prever o que nos espera, num futuro próximo ou longínquo, diante do espantoso aumento do numero de contagiados por força do poder de comunicação desses autênticos criminosos, que usam especialmente a necessidade de trabalhar dos menos informados que vivam em condições mais precárias, no quadro da escandalosa desigualdade social que caracteriza o país.
Isto nos obriga ainda mais a concentrarmos nossa ação no combate à pandemia, estimulados inclusive pelos gestos de solidariedade que se multiplicam em toda parte. A começar pelo trabalho heroico dos profissionais de saúde que, mesmo sem contar com os necessários equipamentos de proteção e até adoecendo por causa disso, estão dia e noite cuidando dos que foram infectados.
Mas, paralelamente, ficamos sabendo também da extensão e variedade das ações dos que se aproveitam da pandemia para beneficiar-se e tirar todo o proveito possível. A maldade se faz presente quase quanto o vírus. Desde a dos que simples e diretamente se disfarçam de enfermeiros para assaltar, até os que aplicam pequenos e grandes golpes ou usam o poder político de que dispõem – porque antes da pandemia foram eleitos para governar e legislar – destruindo direitos sociais conquistados ao longo de décadas ou criando ainda mais privilégios e artimanhas econômicas para os donos do dinheiro, que sempre dominaram o mundo.

Por isso o tempo de isolamento de que todos dispomos pode se tornar precioso, para que não deixemos que essas ações sigam seu curso, que pode ser ainda mais destruidor. Se o deixarmos, o quadro geral vivido pelo país pode piorar ainda mais quando diminuir a pressão das ameaças na saúde pública.
Não se trata somente de preencher as varias horas do dia com coisas prazerosas que nos ajudem a aguentar as rotinas domésticas que caíram em nossas mãos. Ou de reservar espaços de tempo para manter nossas próprias condições físicas ou para ler ou ouvir tudo de que dispomos para ser aprendido. Trata-se de se informar sobre as maldades em curso ou em preparação, para serem já acionadas ou o sejam tão logo diminua a primazia que se dá à luta contra a pandemia da Covid 19 e se tenha chorado a morte de tantos, aqui e no mundo. E se trata de procurar descobrir – e a eles se associar – os que já estão agindo ou pelo menos protestando contra ações pretendidas, encobertas pela pandemia.
Este é o primeiro de uma serie de artigos que pretendo escrever com o objetivo de informar sobre o que é possível fazer. De minha parte, implicado que estou há anos na luta contra a maldição nuclear, ficarei mais concentrado nesse tema. Ainda mais porque estou seguro de que os nucleopatas brasileiros logo arregaçarão seus dentes para investir na realização dos seus objetivos antes de se declarar a pandemia: a insanidade de construir em Pernambuco mais seis usinas nucleares, á beira do S.Francisco; a dupla insanidade de retomar a construção, com um projeto obsoleto, varias vezes tentada, da usina Angra 3 junto a Angra 1 e Angra 2; a irresponsabilidade de estender o “prazo de validade” de Angra 1, com equipamentos pouco fiáveis, quando nossa mais velha usina atingir 40 anos de idade.
Em texto anterior, que retomarei, já mostrei algumas diferenças e paralelos entre a ação e natureza do vírus que hoje nos ataca e das partículas radioativas que são o principal produto – mais do que a produção de eletricidade – dessas terríveis usinas nucleares que ainda não mostraram ao mundo toda a maldade que está nelas escondida. Mas usando todo o “tempo livre” que tiver em meu isolamento, espero conseguir mostrar como, com o nuclear, a Humanidade se vê há mais de um século frente a uma verdadeira maldição, que é tão ou mais arrasadora – no limite de um desvario humano que leve ao apocalipse nuclear – que os vírus que ainda poderão nos assombrar.
01/05/2020

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